terça-feira, 13 de outubro de 2009

O Novo Mapa do Crime no Estado


Imagem da área central de Porto Alegre, RS - Google Earth

Ao inserir todas as ocorrências criminais em um banco de dados digitalizado, Brigada Militar terá uma ferramenta que lhe possibilitará mapear a ação de quadrilhas no território gaúcho e poderá redirecionar suas operações preventivas

Cravejados por alfinetes coloridos, os mapas de papel usados para acompanhar a evolução geográfica da violência estão sendo retirados das paredes dos quartéis da Brigada Militar. Até o fim do mês, a exemplo do que já ocorre experimentalmente na Capital, o acompanhamento de ocorrências, como assassinatos e roubos, passará a ser feito em todo o Estado na tela do computador, com a utilização de imagens de satélite.


Mas qual a importância desse sistema para o cidadão? O que muda na vida de quem não é brigadiano? Os idealizadores do projeto apostam que a ferramenta será a principal arma para a redução da violência no Estado, dando mais tranquilidade aos gaúchos. Essa ferramenta será usada, nos próximos meses, pelos 3,8 mil PMs aprovados em concurso e que na quinta-feira começaram a fazer o curso de formação de soldados. Ao final do curso, os recém-formados terão aulas de como manusear o software.

Como isso será feito na prática? Em vez de usar a intuição ou os atuais relatórios semanais de criminalidade, as ações de policiamento preventivo poderão ser decididas diariamente ou até a cada turno de trabalho com base no mapa virtual. Um exemplo: as atuais operações de combate ao tráfico de drogas e ao roubo de veículos que contribuíram para a redução desses crimes na Capital foram organizadas a partir de análise geográfica e temporal feitas no dia das barreiras.

– Estamos saindo da idade da pedra ao criar uma ferramenta online que permitirá ao comandante de cada unidade traçar estratégias baseadas em análise de dados e não em suposições – explica o subcomandante-geral da BM, coronel Jones Calixtrato.

Ao cruzar dados de diferentes ocorrências, o software também poderá confirmar ou derrubar mitos. Na fase experimental do projeto, iniciada no primeiro semestre em Porto Alegre, o mapa digital confirmou que mais de 70% dos assassinatos ocorreram próximo a bocas de fumo, revelando a intimidade entre os crimes.

– Isso nos deu a certeza de que combatendo o tráfico em locais específicos reduziríamos as mortes. E foi o que aconteceu – afirma o coordenador técnico do projeto, capitão Rogério Buss.

Com o novo sistema em pleno funcionamento a partir de novembro, o gaúcho também deve ser brindado com informações mais precisas sobre o que acontece na sua rua. A ideia é disseminar na comunidade dados que possam contribuir à prevenção de crimes. Saber quais crimes afligem moradores de um bairro e quando eles mais ocorrem, por exemplo, pode ajudar nas estratégias de policiamento comunitário defendidas pelo atual subcomandante-geral da corporação.

– Se um morador souber que, no seu bairro, o número de furto de veículos ainda é alto, ele terá mais convicção de ligar para o 190 ao ver pessoas rondando um veículo estacionado – exemplifica o coronel.

Para implantar o projeto, no entanto, a Brigada ainda reúne informações contidas em outros bancos de dados policiais, como o Consultas Integradas, para criar a sua base de pesquisa. Para isso, está sendo usado um programa desenvolvido pela corporação. Além de armazenar as informações inseridas diariamente, o software marca as principais ocorrências no programa Google Earth, atribuindo a cada uma delas um pequeno resumo do crime.

Denominado tecnicamente de georreferenciamento, o mapeamento digital já é utilizado para outros fins, como a questão ambiental das queimadas na Amazônia. Segundo o professor de Geografia da Pontifícia Universidade Católica (PUCRS) Alexandre Lahn, os mapas digitais garantem agilidade e precisão na hora de se analisar um cenário definido, seja um derramamento de óleo no mar ou a migração do crime. Segundo ele, a ferramenta foi usada recentemente no monitoramento da gripe A.

– Você enxerga geograficamente o que está ocorrendo, percebe mudanças que não seriam vistas se estivessem em tabelas – destaca.



FRANCISCO AMORIM


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