3 fatos provam morte de Eliza, diz inquérito
RODRIGO VIZEUDE BELO HORIZONTE
A Polícia Civil de MG apresentou ontem 14 provas para explicar o indiciamento, anteontem, do goleiro Bruno Fernandes e de mais oito pessoas suspeitas de matar Eliza Samudio, ex-namorada dele.
Três fatos provariam que ela foi morta, mesmo que não haja corpo: o sangue dela no carro de Bruno, a contratação de um ex-policial para matá-la e a crença de que Eliza não abandonaria seu bebê, suposto filho de Bruno, pois ela lutava pela pensão.
Foram exibidas 11 "provas técnicas". Cinco delas são entrevistas dos envolvidos, como o vídeo em que Bruno tenta culpar seu amigo Luiz Henrique Romão, o Macarrão, por um eventual crime.
Entre as provas está também a confirmação de que o álbum de fotos encontrado pela Folha perto do sítio do goleiro é do bebê de Eliza. Há ainda provas testemunhais.
Segundo o inquérito, Eliza foi sequestrada em 4 de junho e morta por asfixia pelo ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, no dia 10. Não há provas de que Bruno estivesse na casa de Bola, onde Eliza supostamente foi morta. Mas a polícia afirma que ele foi o autor "intelectual e material" do crime.
Os advogados negam a participação dos indiciados.
Segundo Moreira, Bruno aproveitou o intervalo do Campeonato Brasileiro durante a Copa da África do Sul --em junho-- para colocar em prática o plano de matar Eliza. O motivo seria o filho, de cinco meses, que Eliza tentava provar na Justiça que é do jogador.
Eugenio Moraes-29.jul.10/Jornal Hoje em Dia/Folhapress | |||
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Para a polícia, goleiro Bruno, suspenso do Flamengo, foi autor intelectual e material do assassinato de Eliza Samudio |
Na versão da Polícia Civil de Minas, Bruno tentou reconquistar a jovem e a atraiu para o Rio de Janeiro. No dia 4 de junho, teve início o plano de execução. Luiz Henrique Ferreira Romão, o Macarrão, --amigo de Bruno-- e o adolescente de 17 anos, primo do goleiro, buscam Eliza em um hotel, e dizem que vão levá-la para a casa de Bruno, no Recreio dos Bandeirantes (zona oeste do Rio).
O delegado afirma que a frase "o Bruno é um babaca" --dita por Macarrão durante o trajeto-- era a senha para que o adolescente saísse do banco traseiro do Range Rover e atacasse Eliza. O adolescente dá três coronhadas na cabeça de Eliza, que reage e deixa o primo de Bruno machucado.
Segundo Moreira, exames de DNA comprovaram que as manchas de sangue encontradas no carro são de Eliza e do adolescente. O delegado afirmou que foi usado um copo plástico no qual o jovem bebeu água para fazer o exame.
Ao chegar na casa de Bruno, Eliza é recebida por Fernanda Gomes de Castro --outra amante de Bruno. Fernanda ajudou a cuidar do filho de Eliza. De acordo com a polícia, durante todo o dia Macarrão e o adolescente falaram com Bruno por celular.
No dia 5 de junho, Bruno chega em sua casa --após um jogo do Flamengo-- e todos viajam para Minas Gerais, em dois carros separadas. Moreira afirma que foi possível comprovar a viagem com a nota de uma lanchonete em Juiz de Fora (MG) e do motel, onde eles fizeram uma parada, em Contagem (MG). O primo de Bruno, Sérgio Rosa Sales --o Camelo-- chega no motel.
No dia seguinte, todos chegam ao sítio de Bruno, em Esmeraldas (MG). No dia 8 de junho, Fernanda volta para o Rio de Janeiro. No dia 9, a mulher de Bruno, Dayanne Rodrigues do Carmo Souza, chega ao sítio.
De acordo com o delegado, Dayanne discute com o Bruno e pergunta se ele está fazendo algo errado. O goleiro vai até o quarto onde está Eliza e fala para Dayanne que "vai dar um jeito" nela.
Mastrangelo Reino-15.jul.10/Folhapress | |
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O ex-policial Marcos Aparecido dos Santos é apontado pela polícia como executor do crime, ele teria asfixiado Eliza |
Com o fim do inquérito, o delegado concluiu que a data da morte de Eliza seria 10 de junho e não dia 9, como foi divulgado pela polícia anteriormente.
No dia 10, Macarrão, o adolescente e Camelo levaram Eliza, a criança e uma mala vermelha em um Ford EcoSport até a região de Pampulha em Belo Horizonte, onde encontraram o Bola --também conhecido como Paulista ou Neném. Todos vão para a casa de Bola em Vespasiano (MG), onde ela é morta por asfixia.
De acordo com Moreira, Bola pede para todos saírem do local e, depois, volta com um saco onde estaria o corpo de Eliza. Bola vai até o canil e, segundo depoimento do adolescente, atira uma das mãos para os cachorros.
Depois da morte, o filho de Eliza fica com Bruno. A volta dos envolvidos para o Rio de Janeiro é com o Time 100% --equipe de futebol mineira patrocinada por Bruno. Moreira afirmou que todo ano o time era levado para o Rio de Janeiro e a viagem foi usada como pretexto para o retorno ao Rio.
PROVAS
Segundo a polícia, o sangue encontrado na parte traseira do carro Range Rover teve resultado positivo na comparação com o de Eliza, que levou três coronhadas do adolescente dentro do carro.
Outra prova é o registro do GPS do carro de Bruno, que mostra o trajeto percorrido com Eliza do Rio até Minas Gerais.
A polícia também informou que amigas e parentes de Eliza reconheceram as sandálias e o óculos encontrados no carro de Bruno como sendo de Eliza. Uma fralda foi encontrada na suíte do motel onde os envolvidos passaram a noite em Contagem.
No notebook de Macarrão, a polícia encontrou um contrato que seria firmado entre Eliza e Bruno, com a data de 8 de junho, e uma procuração em branco.
INDICIADOS
Bruno foi indiciado por homicídio, sequestro e cárcere privado, ocultação de cadáver, formação de quadrilha e corrupção de menores. A polícia concluiu o inquérito na quinta-feira (29) e encaminhou o documento de 1.600 páginas para a Justiça hoje.
Também foram indiciados pelos mesmos crimes os demais envolvidos: Luiz Henrique Ferreira Romão (Macarrão), Flávio Caetano de Araújo, Wemerson Marques de Souza (Coxinha), Dayane Rodriques do Carmo Souza (mulher de Bruno), Elenilson Vitor da Silva, Sérgio Rosa Sales (Camelo, primo de Bruna) e Fernanda Gomes de Castro (amante de Bruno).
O ex-policial Marcos Aparecido dos Santos (Bola) foi indiciado por homicídio qualificado, formação de quadrilha e ocultação de cadáver.
Dos nove indiciados, oito estão presos na penitenciária de segurança máxima Nelson Hungria, em Contagem (MG). Fernanda é a única que está em liberdade.
Ela prestou depoimento na semana passada, em Belo Horizonte (MG), e admitiu que viajou com Bruno do Rio de Janeiro até Minas Gerais, na época em que Eliza desapareceu. No entanto, Fernanda afirmou que não viu Eliza.
"Provas de materialidade indireta" |
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1) Sangue de Eliza Samudio achado na Range Rover |
2) Abandono do filho de Samudio, "pivô da ação judicial de reconhecimento de paternidade" |
3) "Contratação para execução do crime de um homem com vivência policial preventiva e investigativa, dotado de conhecimentos de técnicas de combates urbanos e nas selvas, com domínio e manuseio de materiais explosivos" (referência a Marcos Aparecido dos Santos, o Bola) |
"Outras provas técnicas" |
4) Laudo de análise do relatório do GPS do Rangge Rover, que "demonstra passo a passo o deslocamento feito do Hotel Transamérica do Rio de Janeiro para Minas Gerais, culminando com a apreensão do veículo em Contagem, no dia 8 de junho |
5) "Reconhecimento por amigas e parentes, como sendo pertencentes a Samudio o par de sandálias e os óculos encontrados no Range Rover |
6) Cruzamento de registros de ligações telefônicas dos indiciados, "constatando o envolvimento e localização dos mesmos [indiciados] no período do dia 4 a 12 de junho" |
7) "Fralda achada em suíte do motel" onde Samudio, seu filho, Bruno, Fernanda, Macarrão e o adolescente passaram a noite |
8) Álbum com fotos queimadas do filho de Samudio, encontrado próximo à cerca do sítio de Bruno pela Folha |
9) Laudo em notebooks de Samudio e Macarrão. Neles foram achadas: fotos da criança e de Bruno, "as quais foram encontradas queimadas perto da cerca do sítio"; "trechos de conversação [de Samudio] que registra ameaças que vinha sofrendo"; "o contrato redigido no notebook de Macarrão a ser firmado entre Eliza e Bruno, datado de 8/6/2010" |
10) Laudo de áudio de entrevista à rádio Tupi do Rio de Janeiro do tio do adolescente, "dando detalhes de como ele (o menor) participou do crime e o estado emocional em que ele se encontrava" |
11) Laudos de áudio e vídeo com entrevista de Bruno, "nas quais relata, com contradições, no programa 'Fantástico' (Rede Globo) e em jornais, que não tinha conhecimento dos fatos", culpando Macarrão pela entrega da criança |
12) Laudo de áudio e vídeo de outras gravações, veiculadas no Programa do Ratinho (SBT) e Balanço Geral (TV Record), em que estão registradas falas de Macarrão e Bruno |
13) Entrevista de Samudio no site Youtube, denunciando Bruno por sequestro e tentativa de aborto |
14) Áudio de entrevista do irmão de Dayanne, Diego Rodrigues do Carmo, à rádio Itatiaia de Minas Gerais, "particularizando a participação da irmã no crime" |
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