Praças dizem que, ao enviar questionários, comando tentou coagir brigadianos
A crise que ganhava corpo na Brigada Militar irrompeu numa tensão generalizada em todos os batalhões do Estado.
Contrariado com a resistência das associações de nível médio da BM – que rejeitaram a proposta de reajuste salarial do governo –, o comandante-geral da corporação, João Carlos Trindade, ordenou a realização de uma consulta a todos os PMs gaúchos. Entre a tarde de terça-feira e as 16h de ontem, eles deveriam marcar “aceita” ou “declina” em uma lista entregue pelos superiores. Quem aprova o pacote comemorou, mas brigadianos contrários à proposta afirmam ter sido coagidos a trocar de opinião.
O efeito imediato foi uma guerra de versões entre todas as patentes da Brigada Militar, além de uma sucessão de ataques e aplausos direcionados ao comandante-geral. Segundo Trindade, o resultado da consulta deverá ser divulgado na manhã de hoje.
Para o coronel, as entidades não têm legitimidade para responder pelos 42 mil PMs do Estado (veja entrevista na página seguinte). A Associação de Servidores de Nível Médio da BM vai apelar hoje ao Ministério Público para buscar a anulação da consulta.
Nas unidades da Brigada, o clima era tenso ontem. Militares da reserva, outros em folga e até em férias foram convocados a se manifestar. Na Ajudância Geral da Brigada Militar, em Porto Alegre, o soldado Marcos Mariano afirmava que a consulta foi “uma excelente ideia”, com aceitação clara da maioria dos colegas:
– Não podemos deixar cem pessoas decidirem por milhares. Na lista que assinei com 50 nomes, só dois eram contra a proposta de reajuste.
Até sargentos, que seriam uma das categorias menos beneficiadas com o pacote, saíram em defesa de Trindade:
– Pelo menos vou ganhar alguma coisa, faz muitos anos que não ganho nada – dizia o sargento Luiz Brito, do Batalhão de Operações Especiais.
Dezenas de PMs, por outro lado, garantiram sofrer pressões de oficiais superiores para votar a favor da proposta. Os oficiais são os maiores defensores do reajuste, pois receberiam os 19,9% referente à Lei Britto retroativos a 2009 (veja quadro ao lado).
– Colocaram a tropa em forma e disseram “quem quiser ser contra, tudo bem, mas depois já sabem” – disse um soldado que pediu sigilo de identidade, como todos os demais que relataram coação.
Segundo o advogado trabalhista Eduardo Raupp, a princípio não há nada de ilegal na consulta de Trindade.
Fonte: ASSTBM
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